Para começar a responder a questão de como preparar para o fracasso, vamos analisar um estudo da psicóloga norte-americana Heidi Grant Halvorson, coordenadora do Centro de Ciência da Motivação na Universidade de Columbia. Em um de seus famosos artigos “O problema das crianças brilhantes”, a pesquisadora descreve um experimento psicológico que possui diversos pontos em comum com a educação recebida pela Geração Y nas Américas.
No estudo, dois grupos de alunos do quinto ano igualmente inteligentes receberam 3 baterias de exercícios. A primeira consistia de problemas relativamente fáceis e os alunos foram felicitados pelo desempenho. O primeiro grupo foi felicitado pela sua capacidade (“Você deve ser muito inteligente!”) enquanto o segundo pelo seu esforço (“Você deve ter estudado bastante!”).
A segunda bateria era constituída de problemas muito difíceis, a ponto de poucos alunos conseguirem acertar uma única resposta. Ao receber os resultados, disseram-lhe que “tinham se saído muito pior”. Finalmente, a terceira bateria era composta de problemas tão fáceis quanto na primeira, para que os pesquisadores pudessem determinar como a experiência do fracasso tinha afetado o desempenho.
A pesquisa descobriu que o primeiro grupo (felicitado pela inteligência) teve um resultado na última bateria 25% pior do que na primeira. Os alunos culpavam a falta de talento inato para explicar o baixo desempenho na segunda rodada, gostaram menos da última série e desistiram dos exercícios em menos tempo.
Já o segundo grupo (felicitado pelo esforço) teve um resultado na última bateria 25% melhor do que na primeira. Eles justificavam seu baixo desempenho na segunda bateria dizendo que não haviam tentado o suficiente e, de uma forma geral, persistiram e apreciaram mais a última série.
A moral da história é que educar crianças com foco em esforço as prepara para o fracasso e favorece o mindset de crescimento, uma visão de mundo na qual competências podem ser aprendidas e desenvolvidas.
A educação afirmativa para a geração Y
A educação afirmativa, que foi muito popular na década de 90, nos anos de formação da geração Y, estimulou o mindset fixo, a crença de que o desempenho está invariavelmente associado a capacidades estáticas e inatas.
Em consequência disto, jovens de alto desempenho no contexto escolar continuaram a ter sucesso em toda sua carreira acadêmica: do jardim ao PhD ou MBA, até seus 25-30 anos.
Até esta idade, a maior parte de profissionais inteligentes da geração Y e que tiveram privilégios sociais experimentaram poucos fracassos na vida. Foram aplaudidos por seus resultados rápidos e precisos, pelo talento para desenvolver estratégias que fizeram a diferença e pela capacidade de convencer e inspirar pessoas em praticamente todos os campos em que se aventuravam. Em um misto de sorte e privilégio, foram alçando posições de maior responsabilidade nas organizações.
No entanto, cedo ou tarde, todo mundo se confronta à aleatoriedade da vida, à imprevisibilidade dos mercados, à fragilidade do emprego e à irracionalidade de familiares e colegas de trabalho.
Estes momentos são extremamente perigosos, pois esta primeira experiência tardia com o fracasso provavelmente se converterá em uma queda significativa no desempenho, na autoestima e na motivação.
Para imunizar jovens talentos de uma experiência traumática, líderes, mentoras e mentores de profissionais millenials podem aplicar algumas técnicas:
- Comemorar resultados, mas não se esquecer de felicitar pelos esforços nos momentos de pico de trabalho.
- Investir no desenvolvimento de competências socioemocionais. Realizar sessões de debriefing sobre o papel do esforço no desenvolvimento de novas competências é uma excelente maneira de alcançar esse resultado.
- Atentar-se com promoções excessivamente precoces. Em vez disso, investir em rotações de cargo ou experiências com projetos pode contribuir para aumentar a capacidade de adotar diferentes perspectivas (empatia cognitiva), competência indispensável nas próximas etapas da carreira em organizações cada vez mais diversas.
- Encorajar que conduzam sessões de brainstorming em torno de problemas complexos ou “crises diárias”, a fim de expandir a consciência de recursos disponíveis e pessoas impactadas por cada solução e a acolher respeitosamente diferentes pontos de vista.
- Estimular que participem de redes de troca com outros altos potenciais, para que encontrem apoio em momentos de dificuldade.
- Realizar sessões de reflexão post-mortem, para que aprendam a valorizar o aprendizado por trás de cada experiência de fracasso.
As lições aprendidas são guias imprescindíveis para navegar em um mundo cada vez mais frágil, ansioso, não-linear, diverso e paradoxal. O fracasso não somente é parte natural da vida como também é experiência fundamental para uma carreira de sucesso na atualidade.
Nesse contexto, liderar com segurança psicológica é mais sobre desenvolver resiliência na equipe e ajudá-la a superar o medo de errar que entregar resultados perfeitinhos e seguros.
Como você desenvolve segurança psicológica e resiliência no seu time?